Radiokaos

O décimo-primeiro programa apresenta músicas do grupo carioca Radiokaos, de seu disco homônimo, incluindo entrevista com um de seus integrantes, João Pedro Lima Jr.


Formado no bairro da Tijuca (RJ), o Radiokaos apresenta certos diferenciais em relação a outras bandas da cidade. "Todos na banda escrevem poesias e letras de música desde cedo. Podemos dizer que somos uma banda de músicos e escritores. O João Pedro (baixista) produzia fanzines de poesia no colégio e hoje está se formando em literatura", diz o vocalista Calê, que, ao cantar, adiciona versos de Rimbaud e Blake às letras do grupo. "O interessante é que muitas de nossas letras foram originalmente escritas como poesias, que o Calê transformou em canções antes de fazermos os arranjos 'eletrificados' no estúdio", explica o guitarrista Adriano Vieira, que completa o Radiokaos com o outro guitarrista Léo Ribeiro e o baterista Silvio Leal, substituindo Fernando Sant'anna, que deixou o grupo.


Radiokaos, o primeiro disco, independente (que pode ser baixado na íntegra do site do Radiokaos na Trama Virtual), mostra que o som do grupo é mais simples do que parece, com suas misturas de anos 80, 90 e um pouco de MPB - mas sem experiências rítmicas exageradas, sempre privilegiando a canção pop. As influências são variadas: vai de B-52's a Franz Ferdinand, passando por Pixies, Cartola, Secos & Molhados. A produção foi feita por um velho amigo, Felipe Rodarte, do grupo Eletrosamba. "A partir dele é que também foram feitos os convites para as participações de Wellington e DJ Babão, também do Eletrosamba, no disco", diz Adriano. "Ele quis explorar uma sonoridade "ao vivona", o clima entre as músicas", explica João Pedro. É o que pode ser ouvida na quase new wave "Foi bom, foi mal", no quase reggae de branco "A doce vita", na punk (meio Jam, meio Clash) "Clóvis", na bem oitentista (Cure, New Order) "Coração roubado", etc.


Apesar do nome da banda ser o mesmo de um LP solo do ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters, não há nada de progressivo. "Nem lembrava desse disco. Na verdade eu estava lendo um livro de punk rock, "Anarquia Planetária e a Cena Brasileira", e encontrei num mesmo parágrafo a palavra radioatividade e uma pequena explicação sobre a teoria do caos", diz Calê. "Juntei o início de uma e o 'caos' da outra expressão e encontrei uma sonoridade bacana. Segundo a teoria do caos, não há no mundo uma gota igual à outra. Assim como nunca tocamos uma mesma música de forma igual".


O Radiokaos não esconde seu lado mais "cabeça", no bom sentido. Formado por antigos conhecidos, o grupo, diz João Pedro, teve seu pontapé inicial a partir de um encontro num sebo em Botafogo. "Encontrei lá o Calê e ele me pediu umas poesias para musicar. Ficamos satisfeitos com o resultado e começamos a ensaiá-las no violão", relembra. Nas letras rolam influências variadas, de autores como Whitman, Bukowski e até Vinícius de Moraes, além de poetas do rock nacional, como Cazuza e Renato Russo. "E no grupo tinha o Fernando, que é um próprio personagem", brinca João Pedro. "Seus hábitos noturnos, de trocar a noite pelo dia, poderiam estar em qualquer livro de literatura fantástica". Na contra-capa do álbum, uma colagem em que aparecem caracteres em russo e fotos de alguns revolucionários (Gil Scott-Heron, Bob Marley) dá a medida de como o grupo quer ser encarado. "É a revolução pela poesia: estamos sempre inconformados", define Calê. "O russo remete ao (poeta) Maiakówski, aos grandes mártires, aos que lutavam contra o conformismo do ser humano. Só que em vez de foices e martelos, a música ficou sendo a nossa arma.", explica João Pedro.


Excertos de Radiokaos: Rock, Pop e Poesia, press release escrito por Ricardo Schott.


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